sábado, 15 de setembro de 2018

Do livro Imagens do Rádio: o “carregamento de verdades”

Fonte: Site "ON THE SHORTWAVES"
Talvez, a maior propaganda da Guerra Fria seja proveniente dos Estados Unidos, através da Rádio Voz da América (VOA). Criada em 1942, a emissora chegou ao fim da II Guerra Mundial destinada a encerrar os serviços internacionais, mas foi convencida a permanecer no campo de batalha para um novo combate.

Conspirações e acusações de espionagens políticas no seu próprio quadro funcional (segundo Brant, 1967), obrigou o governo a incorporá-la à Agência de Informação, passando a funcionar ao lado do Capitólio, em Washington. Dois momentos foram importantes na história da VOA: as transmissões marítimas contra o comunismo e a corrida espacial.

Em 1952 começa nos Estados Unidos a chamada “Operação Vagabundo”. Já em alto mar, a VOA participava dela iniciando uma campanha de propaganda contra o bloqueio Comunista na América e em países localizados na “cortina de ferro”. A bordo do navio flutuante USCGC Courier a Voz da América percorreu o atlântico até a ilha de Rhodes (Grécia) para transmitir discursos políticos bem próximo ao inimigo.


O navio zarpou desde o Panamá, com direito à fanfarra, cerimônia oficial 
e souvenires criados para ocasião (veja QSL), para uma viagem inusitada. Conforme pronunciamento do Presidente Harry Truman: “... Não levará canhões, nem nenhum instrumento de destruição. Valoroso paladino da causa da liberdade, esse navio levará um carregamento muito valioso. Esse carregamento é... a verdade [...] aos que sofrem a opressão da tirania”.

Todavia, a maior audiência da VOA veio do alto céu através das comunicações sobre as viagens espaciais e a chamada "Guerra nas Estrelas". Coberturas exclusivas, inclusive em português produzidas pelo Serviço Brasileiro que funcionou entre 1961/2001. O forte desses programas foram as transmissões em cadeia e direto das plataformas de lançamentos.


Segundo a emissora, quase 800 milhões de ouvintes de todo mundo estavam sintonizados diretamente na VOA ou por meio das emissoras que retransmitiam a sua programação ao vivo durante a chegada do homem ao solo lunar, em 20/06/69. No Brasil, a Revista Fatos e Fotos gravou um disco com trechos dessas transmissões da VOA na voz do saudoso Pedro Kattar, falecido em março de 2016 (vide link).

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Do livro Imagens do Rádio: o significado da “amizade” na propaganda socialista

Devido à natureza unidirecional da sua linguagem, a sintonia internacional precisou ser pensada pela necessidade de preencher os espaços de interatividade com os seus ouvintes. As trocas da recepção pelo cartão QSL, além de souvenires personalizados, têm sido a alegria dos ouvintes que, após a escuta, ansiosamente, aguardam esses materiais pelo correio postal. Lugares exóticos, construções simbólicas, pensamentos proibidos...
Há quem diga que os radioescutas estão tão satisfeitos com a confirmação da sua escuta, que pouco se importam para interpretar a iconografia das mensagens recebidas. Mas será que esses materiais têm alguma coisa pra contar?
Vejamos a propaganda radiofônica da base comunista, pelo viés da palavra “amizade”. Ela aparece nas imagens da Rádio Havana Cuba (Uma voz de amizade que recorre o mundo) e Rádio Central de Moscou (URSS-Brasil pela amizade).
À luz do materialismo histórico, o marxismo apresenta o homem como o centro das suas manifestações psíquicas, intelectual e moral: ele é produto e também determinante do meio social através dos meios de produção. Logo a moral proletária passa a ser protagonista e revolucionária na luta contra a base capitalista, caracteriza pela exploração do homem pelo homem.
Com os embates dos blocos (capitalismo x comunismo) durante a Guerra Fria, o sentimento moral da “amizade” adquire uma universalidade no processo revolucionário para outras partes do mundo. A amizade faz surgir os “camaradas” e a união da luta dos trabalhadores por uma sociedade idealizada, sem competição pelo dinheiro e poder. 
Afinal, para interpretação do comunismo não somos concorrentes ou inimigos, mas “camaradas” e “amigos”, que se unem pela igualdade e contra a dominação do Estado. Daí o significado da palavra “amizade” que circula nos materiais das emissoras ora citadas. Uma propaganda à revolução e em apoio aos países, que inclui o Brasil, em regime da Ditadura Militar durante a fase da Guerra Fria.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Imagens do Rádio: livro que aborda a sintonia internacional no Brasil será lançado na Universidade Estadual de Feira de Santana dia 20/setembro


Convido os amigos e interessados pelo tema para o lançamento coletivo do meu livro “Imagens do Rádio: elementos para análise da sintonia internacional no Brasil”. A solenidade acontecerá na quinta-feira (20/09), às 16 horas, no hall da Reitoria da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.

A publicação foi contemplada pelo edital de livros técnicos-científicos da UEFS Editora, com apoio do Mestrado em Design, Cultura e Interatividade onde participo das pesquisas sobre linguagens visuais, memória e cultura.

Em 316 páginas, o livro aborda a audição radiofônica como um campo privilegiado, que ao saturar apenas um órgão do sentido (o ouvir) potencializa o homem em sua amplitude simbólica. Muito embora essa percepção esteja relacionada à linguagem oral e sonora, é no rádio que os ouvintes completam o significado das mensagens sintonizadas ao exercitar as imagens do inconsciente coletivo.

A necessidade do ouvir aproximou a audiência brasileira ao mundo à custa da “radiodifusão internacional” via Ondas Curtas. Estava no ar a Guerra Fria, transmitindo no rádio – em língua portuguesa e espanhola – as questões políticas, ideológicas e culturais polarizadas nos esforços do conflito. Este é o objeto de análise, que inicia com o fluxo das emissões políticas entre as décadas de 70 e 80. Mais à frente o universo se amplia com o sinal de outras rádios internacionais que não participaram do discurso de combate, e, com isso, permitindo o contraponto das informações.

No Brasil existe uma audiência particularizada nesse tipo de escuta por questões culturais e afetivas. Ao delimitá-la no conjunto de ouvintes do DX Clube do Brasil – DXCB o livro fica mais interessante. Sendo possível identificar as emissoras sintonizadas, as suas pautas, formas de propagandas e construções simbólicas entre emissor/receptor. Esse quadro da propaganda radiofônica da Guerra Fria apresenta percepções resultantes das formas culturais, tão elementares à constituição coletiva do homo symbolicus.

Prof. Ms. Antonio Argolo Silva Neto