quinta-feira, 8 de março de 2012

Às Mulheres do rádio



Mulheres distantes, do outro lado do mundo
Mulheres que o rádio trouxe à minha sintonia
Traduzindo minhas palavras nas ondas do éter,
Lendo as mensagens que eu lhes escrevia

Mulheres de um tempo em que estive sozinho,
Mulheres divinas e de tantos encantos
Nas noites quando adormecia com o rádio ligado
Ouvindo suas vozes e também os seus cantos

Mulheres sem rostos, mulheres sonoras...
Preenchi suas faces com a imaginação
Suas vozes amigas saturam o espectro,
Em meio à interferência e oscilação

Mulheres radiofônicas das Ondas Curtas,
Vozes antenadas que escondem enigmas
Comunicadoras, mães, profissionais...
Mulheres de sonhos, grandes amigas

Fico feliz por um dia ter ouvido tuas vozes,
Receber tuas mensagens e conhecer o teu mundo
Parabéns pelo teu dia e por ser o que é:
SIMPLESMENTE MULHER!!

Antonio Argolo

sábado, 3 de março de 2012

A chegada da primavera e a despedida da Rádio Bulgária nas Ondas Curtas

Já estamos nos mês de março! Nesta data, todos os anos, ancorava minha sintonia nas transmissões internacionais da Rádio Bulgária, via Ondas Curtas, para acompanhar os festejos da primavera e as trocas das Martenitzas entre os búlgaros.

Ao som da Rádio Bulgária era possível não apenas ouvir as canções folclóricas e os movimentos das danças típicas, mas adentrar num mundo imaginário
para compreender o sentido das tradições culturais.

Dizem que quando Deus deu a terra para os humanos separou para os búlgaros um “pequeno pedaço do paraíso”. E, de fato, a Bulgária é um país encantador, povoado por várias gerações que deixaram um importante legado. Entre eles me encanta a diversidade arquitetônica, os costumes e as canções épicas que se reportam às histórias das civilizações.

Segundo a lenda, muito antes da Bulgária ser formada, havia um soberano cujo reino se estendia pelas margens do Rio Volga. Após sua morte o reinado passou à família composta por cinco filhos e uma filha. O herdeiro caçula, Asparuj, partiu da sua terra natal com numerosos seguidores em direção ao sul, atravessando o Rio Danúbio, onde fundou o atual Estado Búlgaro.


A notícia se espalhou, então sua irmã quis homenageá-lo. Colheu ramos de campainhas brancas – que desabrocharam no início da primavera –, amarrando-as com cordões vermelhos no pé de uma pomba branca, que deveria levá-los ao seu irmão. Como a chegada da primavera faz derreter a neve, despertando a terra para o renascer de uma nova vida, as flores enviadas a Asparuj simbolizavam o amor de sua irmã e o desejo de prosperidade, saúde e muitos anos de vida.


Ao receber a mensagem, Asparuj ordenou aos seus soldados que amarrassem em suas fardas pequenas borlas de fios brancos e vermelhos (Martenitza), nascendo assim uma tradição que permanece até hoje na Bulgária.


O nome Martenitza vem de “mart”, “março” na língua búlgara. A Martenitza é, portanto, uma borla de fios brancos e vermelhos, que simboliza a chegada da primavera na Bulgária. A cada primeiro dia de março essa lembrança é compartilhada entre amigos e familiares, que trocam entre si os votos de saúde, paz, felicidade e vida longa. Há também uma infinidade de souvenir e artesanatos decorados com as cores da Matenitza, que são utilizados para dar um clima mais
criativo à festividade.

Nessa perspectiva, desde 03 de março de 1930, a Rádio Bulgária estendeu para várias partes do mundo as mensagens da chegada da primavera, as tradições populares e a voz do povo búlgaro. Mesmo atrelada ao regime comunista – no período da Guerra Fria – a emissora teve um papel importantíssimo para a difusão da história, das tradições culturais entre elas as danças típicas, modos de vida, as artes, religiosidade e as canções líricas daquele país. Naquele período, ainda se identificando como “Rádio Sofia”, chegou a transmitir uma programação regular em português para o Brasil.

Hoje, dia 03 de março a Rádio Bulgária completaria 82 anos de transmissão. Porém, lamentavelmente, encerrou suas emissões internacionais em 31 de janeiro deste ano, quando também transmitiu pela última vez em língua espanhola para a audiência de Cervantes e Camões através das Ondas Curtas.

A partir de agora segue as mesmas intenções de algumas emissoras que abandonam suas emissões via Ondas Curtas para se dedicar à plataforma multimídia da internet. Para os radioescutas é mais uma voz que se cala, dentre os pequenos países que ainda encontram no rádio de Ondas Curtas a oportunidade de manifestar sua identidade cultural e pontos de vistas em paradoxo aos mass media.


Também não se deve esquecer que, mesmo diante das novas tecnologias da informação, o rádio ainda ocupa um papel importante nas sociedades modernas. Entre comunicação, informação e entretenimento, tende despertar a sensibilidade humana para dar sentido à vida e vencer os obstáculos de um mundo cada vez mais racionalista.


Antonio Argolo