Já estamos nos mês de março! Nesta data, todos os anos, ancorava minha sintonia nas transmissões internacionais da Rádio Bulgária, via Ondas Curtas, para acompanhar os festejos da primavera e as trocas das Martenitzas entre os búlgaros.
Ao som da Rádio Bulgária era possível não apenas ouvir as canções folclóricas e os movimentos das danças típicas, mas adentrar num mundo imaginário para compreender o sentido das tradições culturais.
Dizem que quando Deus deu a terra para os humanos separou para os búlgaros um “pequeno pedaço do paraíso”. E, de fato, a Bulgária é um país encantador, povoado por várias gerações que deixaram um importante legado. Entre eles me encanta a diversidade arquitetônica, os costumes e as canções épicas que se reportam às histórias das civilizações.
Segundo a lenda, muito antes da Bulgária ser formada, havia um soberano cujo reino se estendia pelas margens do Rio Volga. Após sua morte o reinado passou à família composta por cinco filhos e uma filha. O herdeiro caçula, Asparuj, partiu da sua terra natal com numerosos seguidores em direção ao sul, atravessando o Rio Danúbio, onde fundou o atual Estado Búlgaro.
A notícia se espalhou, então sua irmã quis homenageá-lo. Colheu ramos de campainhas brancas – que desabrocharam no início da primavera –, amarrando-as com cordões vermelhos no pé de uma pomba branca, que deveria levá-los ao seu irmão. Como a chegada da primavera faz derreter a neve, despertando a terra para o renascer de uma nova vida, as flores enviadas a Asparuj simbolizavam o amor de sua irmã e o desejo de prosperidade, saúde e muitos anos de vida.
Ao receber a mensagem, Asparuj ordenou aos seus soldados que amarrassem em suas fardas pequenas borlas de fios brancos e vermelhos (Martenitza), nascendo assim uma tradição que permanece até hoje na Bulgária.
O nome Martenitza vem de “mart”, “março” na língua búlgara. A Martenitza é, portanto, uma borla de fios brancos e vermelhos, que simboliza a chegada da primavera na Bulgária. A cada primeiro dia de março essa lembrança é compartilhada entre amigos e familiares, que trocam entre si os votos de saúde, paz, felicidade e vida longa. Há também uma infinidade de souvenir e artesanatos decorados com as cores da Matenitza, que são utilizados para dar um clima mais criativo à festividade.
Nessa perspectiva, desde 03 de março de 1930, a Rádio Bulgária estendeu para várias partes do mundo as mensagens da chegada da primavera, as tradições populares e a voz do povo búlgaro. Mesmo atrelada ao regime comunista – no período da Guerra Fria – a emissora teve um papel importantíssimo para a difusão da história, das tradições culturais entre elas as danças típicas, modos de vida, as artes, religiosidade e as canções líricas daquele país. Naquele período, ainda se identificando como “Rádio Sofia”, chegou a transmitir uma programação regular em português para o Brasil.
Hoje, dia 03 de março a Rádio Bulgária completaria 82 anos de transmissão. Porém, lamentavelmente, encerrou suas emissões internacionais em 31 de janeiro deste ano, quando também transmitiu pela última vez em língua espanhola para a audiência de Cervantes e Camões através das Ondas Curtas.
A partir de agora segue as mesmas intenções de algumas emissoras que abandonam suas emissões via Ondas Curtas para se dedicar à plataforma multimídia da internet. Para os radioescutas é mais uma voz que se cala, dentre os pequenos países que ainda encontram no rádio de Ondas Curtas a oportunidade de manifestar sua identidade cultural e pontos de vistas em paradoxo aos mass media.
Também não se deve esquecer que, mesmo diante das novas tecnologias da informação, o rádio ainda ocupa um papel importante nas sociedades modernas. Entre comunicação, informação e entretenimento, tende despertar a sensibilidade humana para dar sentido à vida e vencer os obstáculos de um mundo cada vez mais racionalista.
Antonio Argolo
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